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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Como trabalhar com Paleontologia no Brasil




COMO TRABALHAR COM PALEONTOLOGIA NO BRASIL






Veja também: Como se tornar um profissional de paleontologia no Brasil

 


“Ah, mas será que vale a pena querer levar a Paleontologia como profissão? Será que tenho futuro nesse ramo? No Brasil não há investimentos em pesquisa!”

Há! Frases comuns que sempre ouvimos quando o assunto “Paleontologia” caminha para o tópico “emprego”... O sucesso nessa área depende somente do empenho do profissional. Acredito que o Brasil de hoje e das próximas décadas é um bom lugar para um paleontologista. As pessoas leigas não sabem como nosso país é carente em trabalhadores dessa área. Aqui há a falta de profissionais, e há áreas da paleontologia em que nenhum brasileiro está atuando. Isso gera um ambiente em que se encontra oportunidade com menor dificuldade do que em outras carreiras como as dos bacharéis em direito ou administradores. Quando comecei a estudar esta ciência, eu ignorei quem me dizia que paleontologia é perda de tempo, ou infantilidade. Hoje posso me dar ao luxo de ter uma carreira estável e verificar que não tem paleontologista suficiente no Brasil para suprir a demanda. E é uma profissão valorizada, em termos de remuneração, principalmente se considerarmos o ganho médio do brasileiro.

Geralmente quem trabalha com micropaleontologia tem mais oportunidade de trabalho, e os fósseis microscópicos são mais interessantes para se estudar, do ponto de vista científico. Fósseis são restos ou vestígios de atividades biológicas (pegadas, ovos, ninhos...) de seres vivos, de qualquer idade, preservados em qualquer material. Microfósseis são tudo isso, mas são os pequenos, que precisam de microscópio para serem descritos. Eles podem ser visíveis a olho nu, mas para observar as estruturas é necessário ver pelo microscópio. Alguns são tão pequenos que não são visíveis a olho nu. E há muitos microfósseis legais para serem estudados. Eles têm maior aplicação, são usados nos mais variados tipos de estudo e, por isso, aumentam o leque de oportunidades do profissional.

Veja abaixo as principais áreas em que um profissional de Paleontologia pode atuar no Brasil.


Professor em aula de Paleontologia (Fonte: Project Exploration).


Professor universitário 

Ser um docente em universidade é a atuação mais comum dos paleontologistas brasileiros. As universidades dão a oportunidade de desenvolver pesquisas científicas paralelas ao trabalho de lecionar em sala de aula. Os professores também orientam alunos de mestrado e doutorado, numa atividade que, ao mesmo tempo, é ensinar e fazer um estudo científico. Como ponto negativo, destaca-se o fato de que as universidades do Brasil oferecem a pior infraestrutura para o trabalho do pesquisador, quando comparado com outros campos de atuação do paleontologista. É comum ver, em laboratórios de universidades, a escassez de equipamentos, que muitas vezes são antigos, ineficientes ou com problemas de manutenção. Aqueles que enguiçam costumam abarrotar os corredores das instituições, acompanhados de móveis danificados. A compra de equipamentos novos é uma novela sem fim. E há os casos em que vemos laboratórios comprarem equipamentos que usam pouco ou que não são perfeitamente adequados para a função a que se destinam, o que eu considero como casos de má aplicação de recursos públicos. Mas, apesar destes problemas, a carreira de professor é muito interessante, nobre e (porque não mencionar?), bem remunerada.

Nas universidades e faculdades privadas, com raras exceções, o trabalho do paleontologista se restringe à transmissão do conteúdo em sala de aula, pois poucas faculdades incentivam a pesquisa científica ou a orientação de alunos de mestrado e doutorado.

Em minha opinião, a docência tem que ser a última coisa que um paleontologista deveria fazer em sua carreira, e nunca a primeira. Explico. O professor tem a função de transmitir conhecimento aos alunos do curso superior. Há casos de alunos que, logo após a conclusão do doutorado, já ingressam em uma universidade para trabalhar como professores, mas para eles faltam a experiência de conhecer muitas bacias sedimentares e os seus fósseis. Quando o paleontologista trabalha em Paleontologia aplicada, no mercado privado, ou em atividades de fiscalização, ele ganha uma enorme experiência e vivência em outras áreas da Paleontologia, coletando e descrevendo fósseis de várias idades, em várias bacias, muitas vezes de vários países. Isso faz dele, ao entrar posteriormente na docência, um professor muito mais competente e capaz de transmitir a visão mais global e completa da ciência que ele estuda. Repare que os professores que mais chamam a atenção nos cursos são os que têm maior vivência e quilômetros de estrada nas suas áreas de atuação.


Paleontologistas em museu (Fonte: Wikimedia Commons).


Pesquisador em museu 

Uma opção de trabalho é como pesquisador em um museu. Essa opção sempre me atraiu, mas é mais difícil de ser atingida, pela escassez de museus no Brasil. Muitos estão ligados a universidades, então os pesquisadores do museu precisam desempenhar o papel de professor em paralelo ao de pesquisador.


Pesquisa por fósseis que indicam camadas com petróleo (Fonte: itt Fossil)

 
Pesquisador em Paleontologia aplicada 

Essa é a área que mais tem carência de profissionais. São os paleontologistas que trabalham em empresas de petróleo ou investigações de meio ambiente. As empresas exploradoras de petróleo que operam no Brasil precisam, atualmente, de dezenas de paleontologistas especializados em microfósseis, para contratação imediata! Os fósseis microscópicos são usados para a identificação das camadas de rocha e, consequentemente, as camadas com presença de óleo e gás. Provavelmente a maior remuneração é encontrada neste ramo, e estes pesquisadores são os que contam com a melhor infraestrutura para trabalhar com seus fósseis.


Escavação de fósseis do salvamento paleontológico da construção da Barragem Calaveras, EUA (Fonte:abc).


Profissional em serviços privados de Paleontologia 

Nos últimos anos surgiu no Brasil a possibilidade do paleontologista desenvolver carreira em empresas privadas, que oferecem serviços de Paleontologia. Trata-se da execução de diagnóstico de ocorrências fossilíferas ou o chamado salvamento paleontológico e também a promoção de eventos de educação patrimonial (palestras, painéis, vídeos, animações, exposições, etc.) para pessoas ou empresas que contratem o serviço. Essa carreira dá a maior experiência e vivência na área, pois hoje o profissional pode estar coletando um dinossauro do Cretáceo, em São Paulo, e, no próximo mês, conchas do Siluriano no Amazonas. Outra vantagem deste campo é a excelência de infraestrutura, com a possibilidade de se trabalhar em laboratórios bem montados, e a facilidade de compra de equipamentos de ponta, quando necessários para o desenvolvimento do trabalho.


Fósseis da bacia do Araripe, alvos de tráfico internacional (Fonte: Araribá).


Fiscalização e gestão do patrimônio fóssil 

Uma aspiração pode ser o ingresso no Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) para exercer a função de fiscal e gestor dos acervos fósseis do país. Essa autarquia é a responsável pela fiscalização das coletas de fósseis no Brasil e pela gestão dos acervos dos museus, universidades e empresas privadas. Também cuida do envio de fósseis brasileiros ao exterior e promove políticas para acabar com o tráfico e comércio ilegal. Há ainda a possibilidade de se trabalhar no Ministério Público ou algum órgão do governo que esteja associado à gestão fossilífera ou à criação de legislação para a fiscalização do patrimônio fossilífero.

Eu trabalhei primeiro com pesquisa, depois como professor e hoje trabalho com a escavação de fósseis. Fico feliz que um paleontologista possa exercer tantas funções excitantes. No Brasil há, com certeza, bastante emprego e pesquisa para ser feita. É claro que, enquanto algumas áreas da paleontologia os empregos sobram, em outras eles faltam. Por isso o estudante tem que ser inteligente na escolha.

Comentem! Gostaria de saber quais são suas aspirações na área ou quais são suas experiências neste campo de trabalho. No próximo texto da coluna Les Gigantes, abordarei como se descobre a idade de um fóssil.





Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Paleontologista oficial do Jurassic Universe
Tem experiência em curadoria de material geológico e no ensino de Paleontologia e Geologia. Atualmente trabalha com fósseis em empresa de serviços privados em Paleontologia e Geologia Sedimentar


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Como se tornar um profissional de Paleontologia no Brasil (parte 2)




COMO SE TORNAR UM PROFISSIONAL DE PALEONTOLOGIA NO BRASIL
parte 2 de 2






Veja também: Como se tornar um profissional de paleontologia no Brasil (parte 1)?

 

Uma vez que você já escolheu o curso superior, o passo seguinte é se dedicar em uma boa graduação e pós-graduação que farão de você um bom profissional de paleontologia. Alguns pensam que se formar em Paleontologia é muito difícil... Mas não é mais difícil que qualquer outro curso superior.

A formação de paleontologista tem as seguintes etapas:

1 – Graduação (quatro a cinco anos)
2 – Pós-graduação
2.1 – Mestrado (dois anos)
2.2 – Doutorado (quatro anos)
2.3 – Pós-doutorado (um ano)

Cumprindo as etapas 1 e 2.1 (graduação e mestrado), você já é considerado um paleontologista habilitado. Mas muitos seguem adiante nos estudos e avançam ao doutorado e, mais raramente, ao pós-doutorado.
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Durante o curso Superior

Bem, a esta altura, o foco dos estudos ainda é amplo. Se você faz Geologia, aprenderá a reconhecer minerais, rochas, como elas se transformam, e muitas técnicas aplicadas por geólogos para a resolução de problemas práticos da área. Mas durante este período de aprendizado de Geologia, recomendo que já se dedique a alguma pesquisa em Paleontologia. Os institutos de Geociências das universidades brasileiras têm, por tradição, laboratórios de Paleontologia que aceitam estagiários de graduação. Uma boa dica é procurar por algumas matérias no curso de Biologia, para sanar algumas deficiências que naturalmente terá para trabalhar na Paleontologia como geólogo. Sugiro matérias de evolução, filogenia e taxonomia de invertebrados e vertebrados.

Se você faz Biologia, aprenderá a descrever os seres vivos, como eles interagem entre si, suas minúcias e fisiologia, entre outras matérias. Como a maior parte dos laboratórios de Paleontologia se encontra em cursos de Geologia, provavelmente você precisará procurar por eles neste instituto. Caso a sua universidade não tenha o curso de Geologia e seu instituto de Biologia não tenha um laboratório de Paleontologia, não hesite em procurar uma opção em outra universidade próxima. Assim como recomendei disciplinas de Biologia para os estudantes de Geologia, faço a sugestão de que os de Biologia procurem por matérias de Geologia que sanem suas deficiências naturais nas matérias da Terra. Os alunos externos à Geologia com quem trabalhei geralmente tinham enormes dificuldades para descrever rochas sedimentares, reconhecer ambientes antigos pela análise dessas rochas, compreender a dimensão do Tempo Geológico (milhões e bilhões de anos) e perceber as sutilezas e implicações dos processos de preservação e as informações que eles podem nos dar. Por isso recomendo que os alunos de Biologia façam matérias de sedimentologia, estratigrafia, tectônica, geologia histórica e tafonomia.


A universidade de Brasília é uma das instituições que possuem laboratórios de Paleontologia e oferecem estágios para alunos de graduação (foto: Fernando Maia Jr).



Além destas matérias que devem ser cursadas em outros institutos, recomendo com veemência a participação em cursos no período de férias, em universidades e museus. Geralmente as universidades coordenam cursos com uma semana de duração para ensinar a descrição de grupos específicos de fósseis ou técnicas de preparação (retirada dos fósseis da rocha). Não tenha receio de viajar para fazer esses cursos, pois atender a eles e outras universidades é uma ótima oportunidade de conhecer diferentes profissionais da área e enriquecer nosso conhecimento. Em congressos e simpósios de Paleontologia e Geologia estes cursos são sempre muito bons e proveitosos.

Quanto mais tempo você se dedicar aos estágios e cursos na área, melhor preparado estará para trabalhar como paleontologista. E, de quebra, eles enriquecem o currículo e melhoram sua disputa pelas vagas do mestrado.
O ideal é que você trabalhe com estágios em paleontologia durante todo o curso de graduação. Assim você já entra no mestrado quase como paleontologista, pois a experiência de vários anos de estágio em laboratório é a melhor escola. Isso melhorará seu desempenho na próxima fase, do mestrado.

Esse estágio pode ocorrer na forma de Programas de Iniciação Científica (PIC, ou PIBIC em algumas universidades). Os PICs são importantíssimos para a formação de um paleontologista. Eles são a execução de uma pesquisa com duração de um ano, em que o estagiário analisa fósseis e chega a um resultado científico. O resultado dessa pesquisa é geralmente apresentado na forma de um relatório e um painel que deve ser apresentado pelo aluno. E, para melhorar, em muitos casos eles são remunerados. Esse é o primeiro momento em que você poderá se sentir um paleontologista de verdade, coletando, analisando e publicando um resultado científico da mesma forma que um pesquisador profissional faz. Se você pretende seguir para o mestrado, faça um PIC!

A execução do PIC é ainda mais inteligente e proveitosa se você escolher o tema de acordo com suas ambições de mestrado e, também, o mercado de trabalho. Se você entrar no mestrado com alguma experiência no tema, pela execução do PIC, sua pesquisa será bem mais fácil. E não se esqueça que tanto o PIC quanto a pós-graduação vão te preparar para ser um profissional, então o ideal é que tudo seja no mesmo tema. É claro que para isso você tem se conhecer e ter segurança de qual área da Paleontologia te interessa e vai te satisfazer como profissional. Não é menos importante avaliar, na hora de escolher esse tema, as possibilidades de encontrar emprego depois de formado. A escolha de um tema que te ofereça mais possibilidades de trabalho é inteligente e com certeza deve ser levada em consideração.

Então, desempenhando ao longo da graduação essas atividades que descrevi acima, você descobrirá que a Paleontologia é muito mais que dinossauros. É, sempre começa com dinossauros, mas há muitos outros fósseis legais. Na verdade, os dinossauros são uma pequena parte de uma ciência muito mais vasta e interessante. Isso provavelmente mudará suas ambições na área, pois ocorrerá a descoberta de muitos temas atraentes na Paleontologia. O que acha de estudar peixes fósseis? De crocodilos? De fezes? De plantas? De pegadas? Conhece microfósseis? Os microfósseis são os fósseis que mais trazem informações científicas do passado.

Outra boa dica é se esforçar para publicar o resultado de suas pesquisas do PIC em artigos completos em revistas científicas. Eu saí da graduação com dois artigos publicados e eles não só foram importantes para que eu pudesse aprender de forma precoce como redigi-los, mas também porque são ótimo diferencial no currículo quando se disputa uma vaga no mestrado.

O mestrado - quando você realmente se torna um paleontologista

O mestrado é uma pesquisa científica em paleontologia que você tem dois anos para concluir. Você escavará um conjunto de fósseis (ou os receberá de um museu) e os estudará para chegar a algum resultado, como a identificação das espécies, do ambiente, da idade, etc. A maior parte dos mestrados é feita com remuneração para o aluno, a chamada “bolsa”.

Para fazer o mestrado, você precisará escolher o tipo de fóssil no qual pretende se especializar. Esse é o momento da decisão. Uma vez que optar por estudar fósseis de plantas, mamíferos, corais... você carregará o título de profissional nesse tipo de fóssil para o resto da vida. Mas isso não quer dizer que você estará amarrado e um grupo por toda a carreira. Você pode optar por outro grupo na fase seguinte, o doutorado, mas o ideal é que sempre trabalhe com o mesmo tipo de fóssil (na graduação e pós-graduação!), para que adquira o máximo de experiência naquele tema. Eu, por exemplo, comecei meus estudos com ostracodes na graduação e continuei com o mesmo grupo no mestrado. Isso me deu a vantagem de que já era craque na descrição deles ao entrar no mestrado, e isso facilitou muito a minha pesquisa durante os dois anos do mestrado.

Assim como mencionei sobre a escolha do tema do PIC, durante a graduação, a escolha do tipo de fóssil ou tema a ser estudado é mais inteligente se você observar como está o mercado de trabalho. Esse detalhe é relevante, então leve em consideração as oportunidades profissionais que o tema te dará.

E como faço esse mestrado? Onde? Em muitas universidades. Eu fiz o meu na Universidade de Brasília. A maior parte deles é oferecida por programas de pós-graduação em Institutos de Geologia. Outra dica que dou é a escolha do instituto, apesar de geralmente não termos muitas opções. Se você fez Biologia, por exemplo, sugiro fazer mestrado no instituto de Geologia, e vice-versa (apesar  que pós-graduação em Paleontologia nos institutos de Biologia é rara). A convivência com profissionais da área oposta é enriquecedora e ajuda no entendimento de uma Paleontologia mais global.

A própria universidade consegue recursos para estes trabalhos científicos. Um professor recebe a tarefa de te orientar, de acompanhar sua pesquisa para garantir que ela chegará ao resultado esperado. Ele recebe uma verba pequena para a escavação e análise dos fósseis Até você pode receber um salário modesto, dependendo de como se vincular ao laboratório. E durante o meu mestrado eu aproveitei para trabalhar como assistente de curadoria de um museu, onde aprendi a fazer exposições e a cuidar do acervo de fósseis, como num museu grande.


O mestrado te transforma num profissional habilitado para desempenhar a profissão (foto: Dr. Kelli Trujillo).


Ao final do mestrado, você deverá entregar uma dissertação redigida, com toda a análise dos fósseis, e será avaliado por uma banca de professores especialistas no assunto. A conclusão do mestrado com tema em Paleontologia faz de você um paleontologista profissional, licenciado para trabalhar na área. E quanto mais artigos de qualidade você publicou em revistas científicas neste período, mais respeitado você será por seus pares.

O doutorado

Após o mestrado, é comum no Brasil que se faça o doutorado. Ele é um projeto de pesquisa muito semelhante ao mestrado, mas tem duração longa (quatro anos) devido ao maior aprofundamento da pesquisa. A ideia do doutorado é capacitar o paleontologista na independência científica e fazer dele um profissional habilitado a criar métodos inovadores de estudo. No fundo, muitos dos doutores em Paleontologia buscaram este título para estar aptos a disputar vagas de professor universitário, uma das saídas mais comuns para se trabalhar com Paleontologia no Brasil.



Trabalho de paleontologista em pesquisa universitária (foto The University of Michigan).


De forma análoga ao mestrado, o doutorado conclui-se com a apresentação de uma tese redigida e a avaliação de uma banca de professores especialistas no assunto. Após a obtenção do título de doutor, o paleontologista passa a assinar suas pesquisas com este que é o título máximo da profissão.

O pós-doutorado

Esta fase é incomum. Tão incomum que brinca-se nas universidades que “o doutor desempregado faz o pós-doutorado para poder se sustentar com mais um ano de bolsa”. Brincadeiras à parte, o pós-doutorado é uma pesquisa menor (com um ano de duração) na busca de um resultado em Paleontologia. Aqueles que concluem esta última fase passam a assinar com o título de pós-doutor.


Na próxima coluna Les Gigantes debaterei quais são as possibilidades de trabalho que um paleontologista encontra no Brasil!





Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Paleontologista oficial do Jurassic Universe
Tem experiência em curadoria de material geológico e no ensino de Paleontologia e Geologia. Atualmente trabalha com fósseis em empresa de serviços privados em Paleontologia e Geologia Sedimentar

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Como se tornar um profissional de Paleontologia no Brasil (parte 1)




COMO SE TORNAR UM PROFISSIONAL DE PALEONTOLOGIA NO BRASIL
parte 1 de 2





“...é que eu sempre quis ser paleontologista, mas eu nunca soube bem por onde começar, ainda mais morando no Brasil... :( ”


Leio e ouço isso o tempo todo, de pessoas que vêm me consultar sobre como se tornar um paleontologista no Brasil. Para a maior parte dos jovens seriamente interessados em se dedicar a esta profissão, esse trabalho é considerado um sonho.

A primeira barreira a ser rompida é aquela colocada por pessoas próximas ou por nós mesmos. Muita gente desinformada diz que escolher a paleontologia como profissão seria perda de tempo, que não daria futuro, que ciência no Brasil, é inexistente, que não há investimento em pesquisa... Paleontologia é mesmo um assunto desconhecido entre os leigos.

Uma prova disso é o encontro recente que tive com um amigo de Ensino Fundamental, depois de muitos anos sem encontra-lo. Ele me perguntou com o que eu trabalhava atualmente. “Eu estudo fósseis” foi a minha resposta. Sabendo que eu gostaria de ser paleontologista desde a infância, exclamou: “Você virou arqueológico!”. Isso é só um exemplo que mostra como muitas pessoas não sabem o que é a paleontologia.

Poucas pessoas aspiram a paleontologia como profissão e geralmente, nas escolas, se passam por "doidos" ou “infantis” (a maior parte das pessoas acha que paleontologia é só dinossauro, logo, algo infantil). Hehehe quem passa por isso sabe do que estou falando! Eu vivi essa mesma situação. Muitas vezes a pressão por profissões mais convencionais vem de dentro de casa. Alguns pais são contra a ideia de que se siga essa carreira por considerarem-na uma "aposta".

Essa barreira psicológica, gerada pela pressão social, é a principal eliminadora de paleontologistas antes mesmo de sua formação. Supere isto. Explique às pessoas o que essa ciência estuda, qual a sua importância e demonstre que é um ramo profissional sério. Uma forma eficiente de se sentir bem a respeito de sua escolha é conversando com algum profissional que já trabalha com paleontologia. Não sabe como encontrá-los? Comece pelas redes sociais, na internet. Eles podem te mostrar com segurança quais são os caminhos. O contato com alguém da área é incrivelmente esclarecedor e te ajudará a escolher o ramo da paleontologia que mais se adequa às suas vocações.

Formação básica

Bem, a esta altura você já deve imaginar que o paleontologista precise de uma formação especializada, um curso de graduação do Ensino Superior. Mas sua formação pode começar muito antes da sua entrada para a universidade/faculdade. A maior parte do conhecimento de paleontologia que os jovens têm vieram de livros e revistas comprados em bancas ou livrarias comuns, de apostilas e tópicos da internet, filmes de fantasia ou documentários. Tudo isso é muito básico (e geralmente tem erros), mas já é um bom começo.

Se você quer ser um paleontologista e ainda está no Ensino Fundamental ou Médio, veja nas universidades perto de você se há vagas para assistente na coleta ou na preparação de fósseis (em laboratório). No caso da universidade, procure nos laboratórios dos cursos de Geologia e de Biologia. Muitas universidades oferecem bolsas para alunos do Ensino Médio, e eu conheço laboratórios que aceitam estagiários de Ensino Médio para trabalhar com fósseis. Outra forma de aprender e já se inserir no meio é procurar algum museu local, que tenha fósseis, para trabalhar como estagiário. Procure conhecer os fósseis que aparecem na região que você mora. Há fósseis em todas as regiões do Brasil.
Na fase final do Ensino Médio, é natural que a concorrência pelas vagas do vestibular o deixe desmotivado. Prepare-se para a prova da melhor forma que puder. Aprenda o conteúdo da prova. Se puder, faça um bom cursinho. Tente o vestibular e, se não conseguir a aprovação, tente de novo. E de novo... uma hora você vai entrar! Esse é o espírito. Boa sorte! Com empenho certamente você passa.

A escolha do curso superior

Uma parte importante da formação do paleontologista é a escolha do curso superior certo. Para não errar nessa escolha, faça a si mesmo essa pergunta: Dentro da paleontologia, que tipo de trabalho você gostaria de fazer?

Essa profissão tem muitas possibilidades de trabalho. Veja aí uma lista das principais atividades. Escolha qual dessas atividades você mais gostaria de desempenhar.
 






Pedi para você escolher uma dessas atividades para poder te indicar o melhor caminho a seguir Qual dessas áreas te atrai mais? Elas pedem formações diferentes.

Se você escolheu um dos itens entre 1 a 5, indico para você o curso de GEOLOGIA.

Se foi o item 6, indico GEOLOGIA, BACHAREL EM BIOLOGIA ou até mesmo MUSEOLOGIA. Qualquer um destes três te preparam para este trabalho.

Se foi o item 7, tanto GEOLOGIA como BACHAREL EM BIOLOGIA são bons cursos para você.

Se você escolheu o item 8, indico o curso de BACHAREL EM BIOLOGIA.
 
Se você se formar em Geologia, ganhará uma visão detalhada do Tempo Geológico e dos fósseis que são encontrados em cada período geológico. Vai aprender a ler todas as evidências que os fósseis e as rochas registram. A leitura dessas evidências vai dar a interpretação de como era o ambiente em que viviam. Aprenderá a reconstruir ambientes antigos pela descrição de rochas (onde os fósseis ocorrem) e terá condições de rastrear mudanças ambientais que aconteceram desde a formação do Planeta Terra até hoje, usando tanto os fósseis quanto as próprias rochas. Até a procura por fósseis é mais eficiente quando se conhece cada tipo de rocha e como os fósseis costumam se preservar nelas. Lembre-se que a escavação é o mais difícil, é cansativo pacas! É fundamental, para que se encontre e colete bem um fóssil, que você seja bom na descrição de rochas. Você aprenderá como as rochas se formam, quais contêm fósseis e como fazer um bom trabalho de detetive de campo. Um paleontologista formado em geologia tem maior facilidade com esses temas.
Se você for bacharel em Biologia, sua vocação maior será a de distinguir entre as diferentes espécies de seres vivos que se fossilizam, sua fisiologia e anatomia, porque este curso te ensina a reconhecer os principais seres vivos e a descrever e reconhecer suas características em grande detalhe. Neste caso, a tendência é que seu foco fique mais restrito ao estudo do corpo do ser e do seu funcionamento interno.

É claro que ao trabalhar na paleontologia você terá que saber um pouco de tudo, na prática o paleontologista tem que ser ao mesmo tempo geólogo e biólogo. Se você optar por Geologia, saiba que terá que aprender Biologia por conta própria. E vice-versa.

Há algumas áreas incomuns que também podem ser uma opção, como Medicina (ótimo para quem quer estudar fósseis de mamíferos) ou Química (para quem se interessa pela análise química de fósseis), entre outras.

Outro detalhe importante é que o bom paleontologista é eficiente em mais de uma função (daqueles sete itens colocados lá em cima). Assim ele pode, por exemplo, participar da coleta do fóssil em campo, da preparação em laboratório e, depois do estudo de sua idade.



Na próxima coluna Les Gigantes continuarei a desenvolver esse tema. Veremos como se preparar durante o curso de graduação para ser um bom paleontologista e dicas para escolher a área de especialização!

Veja também: Como se tornar um profissional de Paleontologia no Brasil (parte 2)




Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Paleontologista oficial do Jurassic Universe
Tem experiência em curadoria de material geológico e no ensino de Paleontologia e Geologia. Atualmente trabalha com fósseis em empresa de serviços privados em Paleontologia e Geologia Sedimentar