COMO TRABALHAR COM PALEONTOLOGIA NO BRASIL
Veja também: Como se tornar um profissional de paleontologia no Brasil
“Ah,
mas será que vale a pena querer levar a Paleontologia como profissão? Será que
tenho futuro nesse ramo? No Brasil não há investimentos em pesquisa!”
Há! Frases comuns que
sempre ouvimos quando o assunto “Paleontologia” caminha para o tópico “emprego”...
O sucesso nessa área depende somente do empenho do profissional. Acredito que o
Brasil de hoje e das próximas décadas é um bom lugar para um paleontologista. As
pessoas leigas não sabem como nosso país é carente em trabalhadores dessa área.
Aqui há a falta de profissionais, e há áreas da paleontologia em que nenhum
brasileiro está atuando. Isso gera um ambiente em que se encontra oportunidade
com menor dificuldade do que em outras carreiras como as dos bacharéis em
direito ou administradores. Quando comecei a estudar esta ciência, eu ignorei
quem me dizia que paleontologia é perda de tempo, ou infantilidade. Hoje posso
me dar ao luxo de ter uma carreira estável e verificar que não tem
paleontologista suficiente no Brasil para suprir a demanda. E é uma profissão
valorizada, em termos de remuneração, principalmente se considerarmos o ganho
médio do brasileiro.
Geralmente
quem trabalha com micropaleontologia
tem mais oportunidade de trabalho, e os fósseis microscópicos são mais interessantes para se
estudar, do ponto de vista científico. Fósseis são restos
ou vestígios de atividades biológicas (pegadas, ovos, ninhos...) de seres
vivos, de qualquer idade, preservados em qualquer material. Microfósseis são
tudo isso, mas são os pequenos, que precisam de microscópio para serem
descritos. Eles podem ser visíveis a olho nu, mas para observar as estruturas é
necessário ver pelo microscópio. Alguns são tão pequenos que não são visíveis a
olho nu. E há muitos microfósseis legais para serem estudados.
Eles têm maior aplicação, são usados nos mais variados tipos de estudo e, por
isso, aumentam o leque de oportunidades do profissional.
Veja abaixo as principais
áreas em que um profissional de Paleontologia pode atuar no Brasil.
Professor
universitário
Ser um docente em universidade é a
atuação mais comum dos paleontologistas brasileiros. As universidades dão a
oportunidade de desenvolver pesquisas científicas paralelas ao trabalho de
lecionar em sala de aula. Os professores também orientam alunos de mestrado e
doutorado, numa atividade que, ao mesmo tempo, é ensinar e fazer um estudo
científico. Como ponto negativo, destaca-se o fato de que as universidades do
Brasil oferecem a pior infraestrutura para o trabalho do pesquisador, quando
comparado com outros campos de atuação do paleontologista. É comum ver, em
laboratórios de universidades, a escassez de equipamentos, que muitas vezes são
antigos, ineficientes ou com problemas de manutenção. Aqueles que enguiçam
costumam abarrotar os corredores das instituições, acompanhados de móveis
danificados. A compra de equipamentos novos é uma novela sem fim. E há os casos
em que vemos laboratórios comprarem equipamentos que usam pouco ou que não são
perfeitamente adequados para a função a que se destinam, o que eu considero
como casos de má aplicação de recursos públicos. Mas, apesar destes problemas,
a carreira de professor é muito interessante, nobre e (porque
não mencionar?), bem remunerada.
Nas universidades e
faculdades privadas, com raras exceções, o trabalho do paleontologista se
restringe à transmissão do conteúdo em sala de aula, pois poucas faculdades
incentivam a pesquisa científica ou a orientação de alunos de mestrado e
doutorado.
Em minha opinião, a docência
tem que ser a última coisa que um paleontologista deveria fazer em sua carreira,
e nunca a primeira. Explico. O professor tem a função de transmitir
conhecimento aos alunos do curso superior. Há casos de alunos que, logo após a
conclusão do doutorado, já ingressam em uma universidade para trabalhar como
professores, mas para eles faltam a experiência de conhecer muitas bacias
sedimentares e os seus fósseis. Quando o paleontologista trabalha em Paleontologia
aplicada, no mercado privado, ou em atividades de fiscalização, ele ganha uma enorme experiência e vivência em outras áreas da Paleontologia, coletando
e descrevendo fósseis de várias idades, em várias bacias, muitas vezes de
vários países. Isso faz dele, ao entrar posteriormente na docência, um
professor muito mais competente e capaz de transmitir a visão mais global e
completa da ciência que ele estuda. Repare que os professores que mais chamam a
atenção nos cursos são os que têm maior vivência e quilômetros de estrada nas
suas áreas de atuação.
Pesquisador
em museu
Uma opção de trabalho é como pesquisador em um museu.
Essa opção sempre me atraiu, mas é mais difícil de ser atingida, pela escassez
de museus no Brasil. Muitos estão ligados a universidades, então os
pesquisadores do museu precisam desempenhar o papel de professor em paralelo ao
de pesquisador.
Pesquisador
em Paleontologia aplicada
Essa é a área que mais tem carência
de profissionais. São os paleontologistas que trabalham em empresas de petróleo
ou investigações de meio ambiente. As empresas exploradoras de petróleo que operam
no Brasil precisam, atualmente, de dezenas de paleontologistas especializados
em microfósseis, para contratação
imediata! Os fósseis microscópicos são usados para a identificação das
camadas de rocha e, consequentemente, as camadas com presença de óleo e gás.
Provavelmente a maior remuneração é encontrada neste ramo, e estes
pesquisadores são os que contam com a melhor infraestrutura para trabalhar com
seus fósseis.
Escavação de fósseis do
salvamento paleontológico da construção da Barragem Calaveras, EUA (Fonte:abc).
Profissional
em serviços privados de Paleontologia
Nos últimos anos surgiu
no Brasil a possibilidade do paleontologista desenvolver carreira em empresas
privadas, que oferecem serviços de Paleontologia. Trata-se da execução de diagnóstico
de ocorrências fossilíferas ou o chamado salvamento paleontológico e também a
promoção de eventos de educação patrimonial (palestras, painéis,
vídeos, animações, exposições, etc.) para pessoas ou empresas
que contratem o serviço. Essa carreira dá a maior experiência e vivência na
área, pois hoje o profissional pode estar coletando um dinossauro do Cretáceo,
em São Paulo, e, no próximo mês, conchas do Siluriano no Amazonas. Outra
vantagem deste campo é a excelência de infraestrutura, com a possibilidade de
se trabalhar em laboratórios bem montados, e a facilidade de compra de
equipamentos de ponta, quando necessários para o desenvolvimento do trabalho.
Fósseis da bacia do
Araripe, alvos de tráfico internacional (Fonte: Araribá).
Fiscalização
e gestão do patrimônio fóssil
Uma aspiração pode ser o
ingresso no Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) para exercer a
função de fiscal e gestor dos acervos fósseis do país. Essa autarquia é a
responsável pela fiscalização das coletas de fósseis no Brasil e pela gestão dos
acervos dos museus, universidades e empresas privadas. Também cuida do envio de
fósseis brasileiros ao exterior e promove políticas para acabar com o tráfico e
comércio ilegal. Há ainda a possibilidade de se trabalhar no Ministério Público
ou algum órgão do governo que esteja associado à gestão fossilífera ou à
criação de legislação para a fiscalização do patrimônio fossilífero.
Eu
trabalhei primeiro com pesquisa, depois como professor e hoje trabalho com a
escavação de fósseis. Fico feliz que um paleontologista possa
exercer tantas funções excitantes. No Brasil há, com certeza, bastante
emprego e pesquisa para ser feita. É claro que, enquanto algumas áreas da
paleontologia os empregos sobram, em outras eles faltam. Por isso o estudante tem
que ser inteligente na escolha.
Comentem! Gostaria de
saber quais são suas aspirações na área ou quais são suas experiências neste
campo de trabalho. No próximo texto da coluna Les Gigantes, abordarei como se
descobre a idade de um fóssil.
Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Paleontologista oficial do Jurassic Universe
Tem experiência em curadoria de material geológico e no ensino de Paleontologia e Geologia. Atualmente trabalha com fósseis em empresa de serviços privados em Paleontologia e Geologia Sedimentar