COMO SE TORNAR UM PROFISSIONAL DE PALEONTOLOGIA NO BRASIL
parte 2 de 2
Veja também: Como se tornar um profissional de paleontologia no Brasil (parte 1)?
Uma vez que você já
escolheu o curso superior, o passo seguinte é se dedicar em uma boa graduação e
pós-graduação que farão de você um bom profissional de paleontologia. Alguns
pensam que se formar em Paleontologia é muito difícil... Mas não é mais difícil que qualquer outro curso superior.
A formação de
paleontologista tem as seguintes etapas:
1 – Graduação (quatro a
cinco anos)
2 – Pós-graduação
2.1
– Mestrado (dois anos)
2.2
– Doutorado (quatro anos)
2.3
– Pós-doutorado (um ano)
Cumprindo as etapas 1 e 2.1 (graduação
e mestrado), você já é considerado um paleontologista habilitado. Mas muitos
seguem adiante nos estudos e avançam ao doutorado e, mais raramente, ao
pós-doutorado.
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Durante
o curso Superior
Bem,
a esta altura, o foco dos estudos ainda é amplo. Se você faz Geologia,
aprenderá a reconhecer minerais, rochas, como elas se transformam, e muitas
técnicas aplicadas por geólogos para a resolução de problemas práticos da área.
Mas durante este período de aprendizado de Geologia, recomendo que já se dedique
a alguma pesquisa em Paleontologia. Os institutos de Geociências das
universidades brasileiras têm, por tradição, laboratórios de Paleontologia que
aceitam estagiários de graduação. Uma boa dica é procurar por algumas matérias
no curso de Biologia, para sanar algumas deficiências que naturalmente terá
para trabalhar na Paleontologia como geólogo. Sugiro matérias de evolução,
filogenia e taxonomia de invertebrados e vertebrados.
Se
você faz Biologia, aprenderá a descrever os seres vivos, como eles interagem
entre si, suas minúcias e fisiologia, entre outras matérias. Como a maior parte
dos laboratórios de Paleontologia se encontra em cursos de Geologia,
provavelmente você precisará procurar por eles neste instituto. Caso a sua
universidade não tenha o curso de Geologia e seu instituto de Biologia não
tenha um laboratório de Paleontologia, não hesite em procurar uma opção em
outra universidade próxima. Assim como recomendei disciplinas de Biologia para
os estudantes de Geologia, faço a sugestão de que os de Biologia procurem por
matérias de Geologia que sanem suas deficiências naturais nas matérias da
Terra. Os alunos externos à Geologia com quem trabalhei geralmente tinham
enormes dificuldades para descrever rochas sedimentares, reconhecer ambientes
antigos pela análise dessas rochas, compreender a dimensão do Tempo Geológico
(milhões e bilhões de anos) e perceber as sutilezas e implicações dos processos
de preservação e as informações que eles podem nos dar. Por isso recomendo que
os alunos de Biologia façam matérias de sedimentologia, estratigrafia,
tectônica, geologia histórica e tafonomia.
A
universidade de Brasília é uma das instituições que possuem laboratórios de Paleontologia e oferecem estágios para alunos de graduação (foto: Fernando
Maia Jr).
Além
destas matérias que devem ser cursadas em outros institutos, recomendo com
veemência a participação em cursos no período de férias, em universidades e
museus. Geralmente as universidades coordenam cursos com uma semana de duração
para ensinar a descrição de grupos específicos de fósseis ou técnicas de
preparação (retirada dos fósseis da
rocha). Não tenha receio de viajar para
fazer esses cursos, pois atender a eles e outras universidades é uma ótima
oportunidade de conhecer diferentes profissionais da área e enriquecer nosso
conhecimento. Em congressos e simpósios de Paleontologia e Geologia estes cursos são sempre
muito bons e proveitosos.
Quanto
mais tempo você se dedicar aos estágios e cursos na área, melhor preparado
estará para trabalhar como paleontologista. E, de quebra, eles enriquecem o
currículo e melhoram sua disputa pelas vagas do mestrado.
O ideal é que você
trabalhe com estágios em paleontologia durante todo o curso de graduação. Assim
você já entra no mestrado quase como paleontologista, pois a experiência de
vários anos de estágio em laboratório é a melhor escola. Isso melhorará seu
desempenho na próxima fase, do mestrado.
Esse estágio pode ocorrer
na forma de Programas de Iniciação Científica (PIC, ou PIBIC em algumas
universidades). Os PICs são importantíssimos para a formação de um
paleontologista. Eles são a execução de uma pesquisa com duração de um ano, em
que o estagiário analisa fósseis e chega a um resultado científico. O resultado
dessa pesquisa é geralmente apresentado na forma de um relatório e um painel
que deve ser apresentado pelo aluno. E, para melhorar, em muitos casos eles são
remunerados. Esse é o primeiro momento em que você poderá se sentir um
paleontologista de verdade, coletando, analisando e publicando um resultado
científico da mesma forma que um pesquisador profissional faz. Se você pretende
seguir para o mestrado, faça um PIC!
A execução do PIC é ainda
mais inteligente e proveitosa se você escolher o tema de acordo com suas
ambições de mestrado e, também, o mercado de trabalho. Se você entrar no
mestrado com alguma experiência no tema, pela execução do PIC, sua pesquisa será
bem mais fácil. E não se esqueça que tanto o PIC quanto a pós-graduação vão te
preparar para ser um profissional, então o ideal é que tudo seja no mesmo tema.
É claro que para isso você tem se conhecer e ter segurança de qual área da Paleontologia
te interessa e vai te satisfazer como profissional. Não é menos importante
avaliar, na hora de escolher esse tema, as possibilidades de encontrar emprego
depois de formado. A escolha de um tema que te ofereça mais possibilidades de
trabalho é inteligente e com certeza deve ser levada em consideração.
Então, desempenhando ao
longo da graduação essas atividades que descrevi acima, você descobrirá que a
Paleontologia é muito mais que dinossauros. É, sempre começa com dinossauros, mas
há muitos outros fósseis legais. Na verdade, os dinossauros são uma pequena
parte de uma ciência muito mais vasta e interessante. Isso provavelmente mudará
suas ambições na área, pois ocorrerá a descoberta de muitos temas atraentes na
Paleontologia. O que acha de estudar peixes fósseis? De crocodilos? De fezes? De plantas? De pegadas? Conhece microfósseis? Os microfósseis são os fósseis
que mais trazem informações científicas do passado.
Outra
boa dica é se esforçar para publicar o resultado de suas pesquisas do PIC em
artigos completos em revistas científicas. Eu saí da graduação com dois artigos
publicados e eles não só foram importantes para que eu pudesse aprender de
forma precoce como redigi-los, mas também porque são ótimo diferencial no currículo
quando se disputa uma vaga no mestrado.
O mestrado - quando você realmente se torna um
paleontologista
O mestrado é uma pesquisa
científica em paleontologia que você tem dois anos para concluir. Você escavará
um conjunto de fósseis (ou os receberá de um museu) e os estudará para chegar a
algum resultado, como a identificação das espécies, do ambiente, da idade, etc.
A maior parte dos mestrados é feita com remuneração para o aluno, a chamada
“bolsa”.
Para fazer o mestrado,
você precisará escolher o tipo de fóssil no qual pretende se especializar. Esse
é o momento da decisão. Uma vez que optar por estudar fósseis de plantas,
mamíferos, corais... você carregará o título de profissional nesse tipo de
fóssil para o resto da vida. Mas isso não quer dizer que você estará amarrado e
um grupo por toda a carreira. Você pode optar por outro grupo na fase seguinte,
o doutorado, mas o ideal é que sempre trabalhe com o mesmo tipo de fóssil (na
graduação e pós-graduação!), para que adquira o máximo de experiência naquele
tema. Eu, por exemplo, comecei meus estudos com ostracodes na graduação e
continuei com o mesmo grupo no mestrado. Isso me deu a vantagem de que já era
craque na descrição deles ao entrar no mestrado, e isso facilitou muito a minha
pesquisa durante os dois anos do mestrado.
Assim como mencionei sobre
a escolha do tema do PIC, durante a graduação, a escolha do tipo de fóssil ou
tema a ser estudado é mais inteligente se você observar como está o mercado de
trabalho. Esse detalhe é relevante, então leve em consideração as oportunidades
profissionais que o tema te dará.
E
como faço esse mestrado? Onde? Em muitas universidades. Eu fiz o meu na
Universidade de Brasília. A maior parte deles é oferecida por programas de
pós-graduação em Institutos de Geologia. Outra dica que dou
é a escolha do instituto, apesar de geralmente não termos muitas opções. Se
você fez Biologia, por exemplo, sugiro fazer mestrado no instituto de Geologia,
e vice-versa (apesar que
pós-graduação em Paleontologia nos institutos de Biologia é rara).
A convivência com profissionais da área oposta é enriquecedora e ajuda no
entendimento de uma Paleontologia mais global.
A própria universidade
consegue recursos para estes trabalhos científicos. Um professor recebe a
tarefa de te orientar, de acompanhar sua pesquisa para garantir que ela chegará
ao resultado esperado. Ele recebe uma verba pequena para a escavação e análise
dos fósseis Até você pode receber um salário modesto, dependendo de como se
vincular ao laboratório. E durante o meu mestrado eu aproveitei para trabalhar
como assistente de curadoria de um museu, onde aprendi a fazer exposições e a
cuidar do acervo de fósseis, como num museu grande.
O mestrado te transforma
num profissional habilitado para desempenhar a profissão (foto: Dr.
Kelli Trujillo).
Ao final do mestrado, você
deverá entregar uma dissertação redigida, com toda a análise dos fósseis, e
será avaliado por uma banca de professores especialistas no assunto. A
conclusão do mestrado com tema em Paleontologia faz de você um paleontologista
profissional, licenciado para trabalhar na área. E quanto mais artigos de
qualidade você publicou em revistas científicas neste período, mais respeitado
você será por seus pares.
O
doutorado
Após o mestrado, é comum
no Brasil que se faça o doutorado. Ele é um projeto de pesquisa muito
semelhante ao mestrado, mas tem duração longa (quatro anos) devido ao maior
aprofundamento da pesquisa. A ideia do doutorado é capacitar o paleontologista
na independência científica e fazer dele um profissional habilitado a criar
métodos inovadores de estudo. No fundo, muitos dos doutores em Paleontologia
buscaram este título para estar aptos a disputar vagas de professor
universitário, uma das saídas mais comuns para se trabalhar com Paleontologia
no Brasil.
De forma análoga ao
mestrado, o doutorado conclui-se com a apresentação de uma tese redigida e a
avaliação de uma banca de professores especialistas no assunto. Após a obtenção
do título de doutor, o paleontologista passa a assinar suas pesquisas com este
que é o título máximo da profissão.
O
pós-doutorado
Esta fase é incomum. Tão
incomum que brinca-se nas universidades que “o doutor desempregado faz o
pós-doutorado para poder se sustentar com mais um ano de bolsa”. Brincadeiras à
parte, o pós-doutorado é uma pesquisa menor (com um ano de
duração)
na busca de um resultado em Paleontologia. Aqueles que concluem esta última
fase passam a assinar com o título de pós-doutor.
Na próxima coluna Les Gigantes debaterei
quais são as possibilidades de trabalho que um paleontologista encontra no
Brasil!
Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Paleontologista oficial do Jurassic Universe
Tem
experiência em curadoria de material geológico e no ensino de
Paleontologia e Geologia. Atualmente trabalha com fósseis em empresa de
serviços privados em Paleontologia e Geologia Sedimentar