quinta-feira, 12 de junho de 2014

Onde encontrar um dinossauro?



ONDE ENCONTRAR UM DINOSSAURO?

No museu! Há!

Mas e quem levou o dinossauro para o museu, como ele faz para encontrar mais dinossauros? Essa seção do blog tem o objetivo de levar aos leitores informações, noticias e debates do mundo da paleontologia em linguagem popular. Daí veio a ideia de sanar essa dúvida que ouço com tanta frequência: “Como você faz para encontrar os fósseis?” ou “Como você sabe que aqui tem fósseis?”. Quando era criança, eu vivia numa fazenda e assistia a documentários (lembram do Paleo Mundo?) que mostravam as escavações de fósseis importantes e um Robert Bakker ainda com barba castanha. Tudo era muito interessante, mas quando eu desligava o televisor, o mundo ao meu redor não tinha fósseis, e eu encontrava nada parecido. Cadê as rochas que se abrem em planos e os fósseis que aparecem no seu interior?

Sendo o fóssil algo raro, certamente a pior forma de tentar encontrá-lo é ao acaso. Quebrar toda rocha que se encontra pela frente não é uma boa estratégia. O mundo é quase todo rocha e esse método daria muito trabalho e pouco retorno. Por isso deve-se descobrir uma forma mais inteligente de procurar por fósseis. Deve-se reconhecer uma maneira de escavar num local com maior chance de conter o fóssil. Qual é o macete?

Estudando na universidade, descobri que os fósseis aparecem em qualquer tipo de rocha. Na verdade, eles estão presentes até em outros materiais (ver um resumo aqui, ó), mas a maior parte deles (e os melhor preservados) estão em um tipo de rocha específico: a rocha sedimentar. E ela não aparece em todo lugar, não aparecia na minha fazenda, por exemplo.

Exemplo de rocha sedimentar, com suas camadas. Tem fósseis embaixo dessa casa, em Santa Catarina!

O bom paleontologista de campo, que se ocupa de encontrar e coletar fósseis é aquele que sabe reconhecer onde o fóssil tem maior probabilidade de aparecer. E ele busca por locais onde rochas sedimentares ocorrem, porque é nesses locais que mais fósseis aparecem. Daí a ideia de que o paleontologista tem que ter bom conhecimento em geologia, porque é o geólogo que estuda e classifica as rochas. Ah, e agora, ficou fácil? Onde encontrar rochas sedimentares?

As rochas sedimentares se concentram em locais que chamamos de bacias sedimentares. Uma bacia sedimentar é uma região extensa da crosta que recebe e conserva sedimento. Simples assim. É um local geralmente baixo, onde sedimentos se acumulam, empurrados pela água, gravidade, gelo ou vento. Os grãos de areia, argila e outros se acumulam nesses locais e os restos de seres que vivem nas redondezas também se incorporam a esse material. Daí a rocha sedimentar ser a que mais possui fósseis. Há outras formas de rochas sedimentares se formarem, mas não vem ao caso agora.

Então, ao olharmos para o mapa geológico Brasil (o mapa que mostra as rochas que temos na superfície do nosso território) podemos perceber que as bacias sedimentares são essas manchas mais ou menos arredondadas que “cobrem” os outros tipos de rocha.


O mapa geológico do Brasil mostra onde ficam as bacias sedimentares (fonte: CPRM)

Vamos dar uma olhada em uma delas, com mais detalhes? A bacia do Paraná é uma das maiores que nós temos no Brasil, e é particularmente interessante porque preserva fósseis de várias idades. Muitos estados brasileiros tem essa bacia sob seus pés, veja o mapa.

A bacia do Paraná tem rochas sedimentares de várias idades (fonte: Tomassi, 2009).


Suas camadas mais antigas têm cerca de 450 milhões de anos e essa bacia chega a preservar sedimentos com idade muito recente (Período Quaternário, o que vivemos hoje). Quando a crosta começou a ceder, há cerca de 450 milhões de anos, sedimentos se acumularam nessa área baixa e formaram as camadas mais antigas da bacia. O peso desse sedimento, aliado a outros fatores, fez com que a bacia cedesse ainda mais, gerando mais espaço para que novos sedimentos se depositassem. Dessa forma, a bacia foi acumulando muitas camadas que preservam fósseis da era Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Essa deposição não foi continua, a cada fase de rebaixamento, um novo conjunto de camadas se acumulou. Cada conjunto desse recebe um nome diferente. Veja aí abaixo como as camadas se acumularam, em algumas centenas de milhões de anos.

 Evolução esquemática do acúmulo de camadas na bacia do Paraná. Hoje as camadas estão sendo erodidas e contém muitos fósseis para serem estudados.

Hoje a bacia do Paraná passa por um processo em que a crosta empurra as camadas para cima, e elas estão sendo erodidas. Olhando o desenho acima, podemos entender porque as camadas mais antigas são mais raras e tendem a aparecer nas bordas da bacia. 

Então, se você mora sobre uma bacia sedimentar, suas chances de estar sobre fósseis são maiores. E, dependendo da posição que a sua casa fica em relação à bacia, você pode encontrar fósseis mais antigos ou mais novos. Veja no mapa abaixo.

 O mapa geológico mostra quais rochas aparecem no local onde você mora. Como os fósseis estão dentro das rochas, você tem como saber qual de qual idade são os fósseis da sua cidade que podem ser encontrados por cientistas.

Se você mora na Cidade 1, há rochas com fósseis do Período Devoniano ao seu redor. Se você mora na Cidade 2, as rochas que encontrará são dos períodos Carbonífero e Permiano. E quem mora na Cidade 3 tem chances de tropeçar em fósseis do Período Cretáceo. Então, o cientista escolhe o local da escavação que contém os fósseis da idade que ele quer estudar. Ele escolhe o local mais adequado para encontrar o que procura.

Se você mora em alguma cidade que não fica sobre uma bacia sedimentar, as chances de haver fósseis no local não é tão grande, mas ainda sim é possível que eles existam. Eles podem estar em rochas magmáticas ou metamórficas ou até mesmo em sedimentos recentes, no fundo de lagos e rios.

O Brasil está cheio de fósseis para serem descobertos, e muitos deles estão perto de você. Por isso é importante que se formem cada vez mais profissionais em paleontologia para estudá-los. Não adianta tentar coletar o fóssil se você não tem o treinamento adequado. A coleta por amadores danifica o fóssil de forma irremediável, muitas vezes o destruindo por completo. E vale mencionar que nossas leis proíbem que o leigo colete fósseis no território nacional, somente paleontologistas autorizados podem fazê-lo.


Autor: Henrique Zimmermann Tomassi
Edição e postagem: Maxwell Berserker

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